Impactos e Riscos da IA no Processo de Aprendizado

A Inteligência Artificial (IA) oferece um enorme potencial para personalizar e otimizar a educação. No entanto, a introdução dessas ferramentas em ambientes de aprendizado também traz desafios importantes de ordem ética, pedagógica, técnica e social. Ignorar essas barreiras pode comprometer a qualidade do ensino e o bem-estar de alunos, educadores e famílias.

 

A presença da IA no cotidiano dos estudantes

Hoje, crianças e jovens já utilizam a IA em diferentes momentos do dia, dentro e fora da escola. Segundo o relatório da Norton “Cyber Safety Insights 2025: Connected Kids,” 39% dos pais brasileiros afirmam que seus filhos usam a IA como companhia e apoio emocional, e 67% relatam que seus filhos utilizam o ChatGPT. Isso mostra que muitas crianças já recorrem à IA para se comunicar, interagir e até criar vínculos.

 

Entre os estudantes universitários, esse cenário também é evidente: dados da ABMES apontam que 71% já utilizam a IA como ferramenta de apoio ao aprendizado.

 
A importância do letramento em IA

Para evitar o uso passivo dessas tecnologias, é essencial promover o letramento em IA. Isso significa ir além de apenas “saber usar” as ferramentas: é necessário compreender como funcionam, reconhecer seus limites e possibilidades, e aplicá-las de forma crítica, ética e prática.

 

Assim como o letramento tradicional não se resume a decifrar palavras, mas envolve interpretar, analisar e construir sentidos, o letramento em IA oferece às crianças e jovens a capacidade de avaliar sistemas e as informações geradas por eles com mais critério e pensamento crítico.

 
O potencial da IA no processo de aprendizado

Quando usada com responsabilidade, intencionalidade e ética, a IA pode ser uma aliada valiosa no aprendizado. Principalmente, as ferramentas de IA podem:

 

  • Apoiar a geração de ideias, a criação de esboços e até a produção de conteúdos completos.
  • Auxiliar na revisão gramatical, estilística, de linguagem e de tom dos textos.
  • Personalizar e adaptar atividades e materiais de acordo com o perfil de cada estudante.

 

Esses recursos podem tornar o processo de aprendizagem mais produtivo, criativo e acessível para todos.

 
Desafios e Preocupações

Por outro lado, a presença da IA também traz riscos que precisam ser reconhecidos e discutidos por todo o ecossistema educacional – escolas, educadores e pais:

 

  • Vieses algorítmicos: os dados usados nos sistemas de IA podem refletir preconceitos sociais, culturais e geográficos existentes.
  • Privacidade e segurança: a proteção dos dados de crianças e adolescentes precisa ser prioridade no desenvolvimento das novas ferramentas de IA.
  • Plágio e propriedade intelectual: a facilidade de gerar textos com IA levanta questões sérias sobre autoria.
  • Alucinações: a IA pode apresentar informações falsas ou inventadas com aparência de verdade.
  • Homogeneização da escrita: há o risco de produzir textos corretos, porém sem originalidade ou subjetividade humana.
  • Diminuição do esforço intelectual e dependência: a linha entre usar a IA como apoio e usá-la como substituto do pensamento crítico é muito tênue.
  • Mecanização do aprendizado e erosão da relação humana: a ênfase excessiva em sistemas automatizados pode reduzir a interação humana e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais.

 

Vale lembrar que, embora a IA possa simular emoções como empatia, ela não sente de fato. São sistemas baseados em dados e cálculos — sem consciência, imaginação ou compreensão do mundo real como os humanos têm.

 
Um caminho possível: as 3 etapas no uso consciente da IA

Para que a IA se torne uma aliada — e não um substituto do pensamento humano — é fundamental manter as competências e habilidades humanas no centro do processo de aprendizado e criação. A IA deve ser vista como uma ferramenta de apoio, e não como um atalho que elimina o esforço intelectual.

 

No meu processo criativo, costumo seguir três etapas que ajudam a garantir esse uso ativo e intencional da IA. Eles colocam a pessoa como protagonista do processo e organizam os momentos em que é preciso estar mais envolvido e os momentos em que podemos delegar tarefas para a IA:

 

  1. ESPECIFICAÇÃO — o momento humano e estratégico: Este é o ponto de partida e exige envolvimento total do criador. Antes de abrir qualquer ferramenta, é preciso refletir: Por que quero usar a IA? Qual problema estou tentando resolver? Qual é o objetivo desse conteúdo ou atividade? Essa etapa garante que o uso da IA não seja automático, mas orientado por um propósito claro, alinhado com valores e com a intenção da pessoa.
  2. CO-CRIAÇÃO — o momento de colaboração com a IA: Aqui entra a força da IA, sua velocidade e capacidade de processar grandes volumes de dados, gerar ideias, sugerir estruturas, compilar informações ou revisar textos. Neste estágio, podemos delegar mais para a IA, usando sua potência computacional para tarefas que seriam lentas e exaustivas para nós. No entanto, ela atua como apoio — não como autora. O papel humano permanece o de direcionar e avaliar os resultados gerados.
  3. APLICAÇÃO — o momento crítico e criativo: Esta é a etapa que fecha o ciclo e que exige novamente um envolvimento ativo do ser humano para transformar o conhecimento adquirido em algo útil, concreto e pessoal. É o momento de avaliar as informações, conectar conceitos, aplicar pensamento crítico e adicionar originalidade e intencionalidade humanas ao que foi produzido com apoio da IA. É aqui que o trabalho ganha personalidade, sentido e profundidade — elementos que nenhuma máquina consegue entregar.

 

Seguir essas três etapas ajuda a garantir que a IA seja usada como parceira, e não como substituta. Ela contribui para ampliar nossas capacidades, mas quem continua no controle — com visão, criatividade e responsabilidade — somos nós.

 

O impacto da IA na escrita e no aprendizado é inegável e tende a crescer. O caminho não está em rejeitar a tecnologia, mas em adotá-la de forma consciente e crítica.

 

Para educadores e pais, o desafio é garantir que a IA complemente — e não substitua — a criatividade, o pensamento crítico e a expressão individual dos estudantes. Ao mesmo tempo, é fundamental manter o foco no desenvolvimento humano: a interação entre pessoas, a empatia, a curiosidade e a equidade no acesso à educação. Em última análise, a IA deve ser vista como uma ferramenta para potencializar e ampliar as capacidades humanas — e não para reduzi-las.


 

Escrito por Rafael Irio, fundador e colunista da ClassIA.  Artigo publicado no dia 19/09/2025.